Afronegócio + Feira Preta

Lourence Alves fala sobre seus conhecimentos sobre afroempreendedorismo

Do Prato ao Plano: empreendedorismo, identidade e gestão

Postado em: 10 de Setembro de 2025 às 16:18

O empreendedorismo, olhado em uma afro perspectiva, e compreendido para além  da lógica puramente mercadológica, revela-se como uma prática de afirmação identitária  e continuidade histórica. Em contextos como o da formação Feira Preta Cria, essa  perspectiva emerge de forma viva, colocando em evidência como negócios liderados por  pessoas negras não são apenas unidades produtivas, mas também espaços de criação,  preservação e reinvenção de saberes ancestrais. 

Ao dialogar com a cozinha afro-brasileira, carrega em si o compromisso de  navegar entre memórias e inovações, de maneira similar ao que ocorre no preparo de um  prato que, ao mesmo tempo, resgata tradições e incorpora novas possibilidades. 

Assim, cada empreendimento se torna também um ato político, que reverte o ciclo  histórico de marginalização e se ancora em valores coletivos, culturais e comunitários. 

As tecnologias negras, nesse contexto, não se limitam ao campo das inovações  contemporâneas, mas englobam sistemas de conhecimento e prática desenvolvidos e  refinados ao longo de séculos. Trata-se de um repertório que envolve desde métodos de  cultivo e manejo agroecológico, até técnicas culinárias de aproveitamento integral e  preservação dos alimentos, articulando sustentabilidade e sabor. 

Esse caminho de empreender, lança mão de tecnologias que se atualizam em  soluções criativas e unem tradição e inovação, permitindo que o negócio se torne um  veículo de transmissão de saberes. Ao reconhecer que cada panela, cada receita e cada  utensílio carregam marcas dessa engenharia social e cultural, compreende-se que o  empreendedor negro opera, muitas vezes, como um guardião e propagador dessas  tecnologias. 

As estratégias negro-femininas são um eixo estruturante dessa trama, pois é  majoritariamente através das mulheres negras que esses saberes e negócios se mantêm  vivos. Nas feiras, mercados e cozinhas, elas tecem redes de apoio, constroem alianças e  praticam a arte do mercar como uma forma de resistência econômica e cultural. 

Essas estratégias combinam cuidado, perspicácia e visão de futuro, reinventando se constantemente para driblar as desigualdades estruturais. Ao trazer para o  afroempreendedorismo essa força organizadora e criativa, o trabalho das mulheres negras 

reafirma que não há dissociação entre gerar renda e manter vínculos comunitários, entre  gerir um negócio e alimentar um território — no sentido literal e simbólico. 

Gerir um negócio gastronômico dentro da lógica do afroempreendedorismo exige  compreender que a dimensão cultural não exclui a necessidade de um planejamento  sólido. 

Uma das ferramentas mais eficazes para estruturar essa visão é o Business Model  Canvas, que permite visualizar, de forma integrada, todos os elementos-chave do  empreendimento: proposta de valor, segmentos de clientes, canais de distribuição, fontes  de receita, recursos e parcerias essenciais, estrutura de custos e atividades principais. 

Ao elaborar o Canvas, o empreendedor ou empreendedora negra consegue alinhar  a identidade e os valores do negócio com estratégias objetivas de atuação, evitando  decisões fragmentadas e facilitando o acesso a parceiros e investidores. 

No campo da gestão financeira, a sustentabilidade do negócio depende de um  controle rigoroso de receitas e despesas, de preferência utilizando ferramentas simples e  acessíveis. Planilhas eletrônicas, aplicativos de fluxo de caixa e sistemas de controle de  vendas podem ser aliados poderosos, muitos deles disponíveis gratuitamente. 

Esse cuidado financeiro também se conecta ao princípio da autonomia: saber  exatamente o custo de cada prato e a margem de lucro praticada é fundamental para não  comprometer a viabilidade do empreendimento. É nessa prática que a economia afetiva  encontra a economia de mercado, garantindo que o valor simbólico do trabalho seja  acompanhado de um retorno financeiro justo. 

A tão temida ficha técnica é outro instrumento essencial na gestão de um negócio  de alimentação, pois permite padronizar receitas, controlar porções e calcular com  precisão o custo de cada preparo. Além de garantir consistência e qualidade para o cliente,  a ficha técnica possibilita um acompanhamento realista do impacto de variações de preço  dos insumos e orienta tomadas de decisão sobre ajustes de cardápio.

 

Lourence fala sobre afroempreendedorismo e identidade

 

Um caminho de desmistificação dessa ferramenta pode ser o de pensar nela,  também, como documento de preservação cultural, registrando não apenas medidas e  processos, mas também histórias, origens e significados de cada prato.

Navegar pela cozinha afro-brasileira é uma viagem que transcende o paladar e nos  leva a um território de memórias, ancestralidade e resistência. Aproveitar essa travessia  nos desafia a perceber como o preparo dos alimentos não é apenas uma expressão de  técnicas, mas também uma forma de celebrar vidas, histórias e culturas que foram  construídas a partir de cruzamentos complexos entre territórios e pessoas. 

O manejo estratégico das mídias sociais é hoje um pilar indispensável para  qualquer negócio gastronômico, e no afroempreendedorismo ele assume ainda a função  de ampliar vozes e narrativas historicamente silenciadas. Plataformas e mídias digitais  oferecem recursos gratuitos para divulgação, interação e vendas, permitindo que micro e  pequenos empreendedores alcancem públicos para além de seus territórios imediatos. 

O conteúdo precisa ir além da promoção de produtos, contando histórias,  mostrando bastidores, compartilhando saberes e evidenciando o diferencial cultural e  afetivo que sustenta o negócio. 

Um caminho de encantamento é o de olhar para as cozinhas brasileiras a partir dos  ingredientes. É uma trilha que nos ajuda a descolonizar as referências gastronômicas  hegemônicas, desfazendo mitos como o da feijoada sendo apenas um prato de restos. 

Para isso, reconhecer as técnicas usadas, como o uso integral dos alimentos, que  manifestam uma relação de respeito e saber profundo com a natureza, evidenciado no  preparo cuidadoso dos feijões e suas variações, é fundamental. 

Refletir sobre nossa alimentação e suas origens abre espaço para um entendimento  mais profundo do que significa cozinhar em solo brasileiro com uma perspectiva afro diaspórica. Ressignificar o quiabo, por exemplo, envolve valorizar seu espessamento  natural, caracterizando-o como um ícone de inovação e não uma característica indesejável  (baba), desvendando assim um mundo de sabores que foram amordaçados pela narrativa  dominante. 

Ao explorarmos a complexidade da cozinha afro-brasileira, é igualmente essencial  reconhecer o papel das mulheres negras que, ao longo dos séculos, foram as protagonistas  silenciosas que mantiveram vivas essas tradições. Seja nos tabuleiros ou nas feiras, suas  habilidades mercantis e a arte do mercar são formas de resistência econômica e social. 

A sabedoria que emanava dos quintais, aquela habilidade de cultivar e utilizar as  plantas alimentícias, nos ensina que, muito antes de modismos e convenções, já existiam 

práticas voltadas para a sustentabilidade e o respeito ao ciclo natural das plantas. Esse é  um legado de adaptação e sobrevivência que deve ser celebrado e protegido. 

Portanto, o convite que esse conhecimento nos traz é ir além do prato. É um  chamado para reviver memórias e reimaginar futuros através de uma conexão profunda  com quem somos e de onde viemos. 

Assim, fazemos da cozinha um espaço não apenas de nutrição, mas de identidade,  lembrança e criação de novas narrativas que ressoam e respeitam nossas histórias  coletivas e individuais. Essa jornada é, e sempre foi, sobre liberdade e identidade,  consolidadas em cada refeição que partilhamos. 

Ao integrar essas ferramentas — Canvas, gestão financeira, ficha técnica e mídias  sociais — empreender é também construir uma base sólida que sustenta tanto a  perenidade econômica quanto a coerência identitária do negócio. 

Essa articulação entre técnica e cultura é o que permite que a cozinha afro brasileira, com sua profundidade histórica e riqueza de significados, se estabeleça como  força no mercado sem abrir mão de seus valores. 

O resultado é um empreendimento que não apenas gera renda, mas também  produz pertencimento, circulação de saberes e fortalecimento comunitário, alinhando  gestão eficiente com a missão de transformar a realidade a partir da comida. 

Portanto, pensar o afroempreendedorismo a partir da cozinha afro-brasileira e das  experiências formativas como a Feira Preta Cria é reconhecer que se trata de uma prática  de liberdade. É navegar por um oceano onde memória, identidade e inovação se  encontram, criando novas rotas para a economia e para a cultura. 

Cada prato preparado, cada produto vendido e cada história contada se tornam  parte de uma narrativa maior, que afirma a potência das comunidades negras em construir  futuros sustentáveis e autônomos. 

Essa é uma travessia que nos convida a ir além do prato: a ver a cozinha, o mercado  e o empreendimento como territórios de disputa e criação, onde se plantam sementes de  dignidade e se colhem frutos de transformação social.

 

Minibio

 

Lourence Alves é professora na Universidade Federal da Bahia, pesquisadora, cozinheira e escritora. Filha de Iemanjá e mãe de Carolina Maria, navega entre panelas, livros e  memórias, unindo a cozinha e a palavra como territórios de afeto e resistência. Doutora  em Alimentação, Nutrição e Saúde, dedica-se a estudar e ensinar a gastronomia em  diálogo com culturas afrocentradas, religiosidades e saberes que desafiam o colonial.

Patrocinadores do programa Academia Assaí

Patrocinadores Master

Guaraná Antarctica patrocinador dos cursos para empreendedores na Academia Assaí

Patrocinadores Vendas por Encomenda

Conteúdo patrocinado por:

Guaraná Antarctica patrocinador dos cursos para empreendedores na Academia Assaí

Patrocinadores Dogueiros e Food trucks

Conteúdo patrocinado por:

Arrifana patrocinador dos cursos para empreendedores na Academia Assaí
Unilever patrocinador dos cursos para empreendedores na Academia Assaí

Patrocinadores Bares e Lanchonetes

Conteúdo patrocinado por:

Patrocinadores Pizzarias

Conteúdo patrocinado por:

Patrocinadores Minimercados e Mercearias

Conteúdo patrocinado por:

Yoki patrocinador dos cursos para empreendedores na Academia Assaí

Patrocinadores Ambulantes

Conteúdo patrocinado por:

Patrocinadores Empreender na Prática

Conteúdo patrocinado por:

Guaraná Antarctica patrocinador dos cursos para empreendedores na Academia Assaí

Patrocinadores Boleiros e Salgadeiros

Conteúdo patrocinado por:

Nestlé patrocinador dos cursos para empreendedores na Academia Assaí
Sadia patrocinador dos cursos para empreendedores na Academia Assaí

Patrocinadores Marketing e Vendas

Conteúdo patrocinado por:

Guaraná Antarctica patrocinador dos cursos para empreendedores na Academia Assaí

Patrocinadores Gestão Financeira

Conteúdo patrocinado por:

Guaraná Antarctica patrocinador dos cursos para empreendedores na Academia Assaí

Patrocinadores Padarias e Confeitarias

Conteúdo patrocinado por:

Pilão patrocinador dos cursos para empreendedores na Academia Assaí

Patrocinadores Todos podem Empreender

Conteúdo patrocinado por:

Guaraná Antarctica patrocinador dos cursos para empreendedores na Academia Assaí

Patrocinadores Restaurantes

Conteúdo patrocinado por:

Unilever patrocinador dos cursos para empreendedores na Academia Assaí