Afronegócio + Feira Preta

Gastronomia Amazônica: Saber Ancestral e Futuro Sustentável
Postado em: 11 de Novembro de 2025 às 16:36
Por Denis Lima, Professor de Gastronomia e Engenheiro de Alimentos
1. A Amazônia cozinha antes de falar: identidade, território e ancestralidade
Aqui o tempo tem cheiro: de tucupi fresco, de castanha estalando no fogo, de peixe curado na brasa e de terra molhada depois da chuva.
É nessa alquimia de natureza e afeto que se revela a nossa gastronomia um saber que não nasceu em livro, mas em fogueiras, panelas de barro e mãos que aprenderam com a floresta.
A comida na Amazônia é mais que sustento, cosmologia, resistência e memória. Representa a ciência dos povos que cultivam o equilíbrio com a terra muito antes de existir a palavra “sustentabilidade”.
A gastronomia amazônica constitui um campo de conhecimento que transcende o ato de alimentar-se. Ela é a síntese da história, da biodiversidade e das relações humanas com o território.
Como instrutor e pesquisador da área gastronômica, percebo que cada ingrediente da Amazônia carrega uma narrativa própria, marcada por ancestralidade e resistência cultural.
O uso do tucupi, do jambu, da mandioca e do açaí, por exemplo, expressa um modo de vida e uma identidade coletiva.
Esses ingredientes, quando trabalhados nas práticas pedagógicas, permitem que os alunos compreendam a cozinha como um espaço de pertencimento, memória e valorização territorial.
Ensinar gastronomia amazônica é, portanto, ensinar pertencimento.
É compreender que cada preparo conta uma história e que o ato de cozinhar pode ser uma forma de preservar saberes, valorizar comunidades e promover respeito à floresta e aos povos que dela vivem.
2. Saberes ancestrais e a dimensão educativa da gastronomia
Os saberes ancestrais da Amazônia são transmitidos pela oralidade, pela convivência e pela prática. São conhecimentos que integram ciência e espiritualidade, técnica e sensibilidade.
Como educador, percebo que cada aula é uma oportunidade de aproximar os alunos dessas heranças culturais e de reconhecer a sabedoria dos povos originários, ribeirinhos e quilombolas.
As práticas culinárias tradicionais como o uso medicinal do jambu, o preparo do tucupi fermentado e o manejo sustentável da mandioca revelam um conhecimento profundo sobre o equilíbrio entre o homem e a natureza.
Integrar esses saberes aos processos educativos significa transformar o ensino culinário em instrumento de consciência e emancipação.
Quando o aluno compreende o valor simbólico e curativo do alimento, ele passa a cozinhar com consciência, reconhecendo que cada prato é também um gesto de cura, de memória e de respeito à ancestralidade.
Essa prática educativa reforça o papel da gastronomia como ferramenta de empoderamento cultural.
Ao trazer para a sala de aula ingredientes, histórias e técnicas tradicionais, formam-se profissionais multiplicadores desses saberes, capazes de inovar sem romper com as raízes que sustentam a cultura alimentar amazônica.
3. O futuro que se cozinha no presente: educação, sustentabilidade e inovação
Quando falamos em mudanças climáticas e COP 30, não falamos de um futuro distante, falamos daquilo que já está na panela agora.
Cada colher de farinha de mandioca, cada tucumã descascado, cada azeite de dendê preparado por mãos negras e indígenas é uma tecnologia de sobrevivência climática.
A gastronomia da floresta ensina o tempo do cuidado: plantar respeitando o ciclo da lua, colher sem esgotar o solo, compartilhar o excedente com a comunidade.
É agricultura familiar, circular e espiritual, onde nada se perde e tudo se transforma.
Pensar no futuro da gastronomia amazônica é pensar também no papel da educação como instrumento de mudança.
A formação gastronômica contemporânea precisa integrar teoria, prática e consciência ambiental.
O futuro da cozinha amazônica nasce no presente, nas aulas que estimulam o uso sustentável dos recursos, o respeito à biodiversidade e o protagonismo das comunidades locais.
Com esse espírito, o Instituto Feira Preta, em parceria com o Instituto Assaí e a Academia Assaí, realizou a turma “Feira Preta Cria Gastronomia em Belém”.
A iniciativa reforça a importância de formar cozinheiros comprometidos com o território, com a economia local e com a valorização dos saberes tradicionais.
Ao unir ensino, afeto e sustentabilidade, a gastronomia torna-se uma prática de transformação capaz de curar não apenas o corpo, mas também a memória e o planeta.
Desse modo, o “sabor que cura o mundo” nasce da consciência que se constrói em sala de aula e nas cozinhas comunitárias.
É o sabor do respeito à floresta, à cultura e às pessoas. O futuro que cozinha no presente é aquele em que cada profissional formado compreende que alimentar é também educar, cuidar e transformar.
Mini bio
Denis Lima é engenheiro de alimentos formado pela Universidade Federal do Pará, especialista em Vigilância Sanitária e Qualidade dos Alimentos e técnico em Alimentação Escolar pela SECTEC. Atualmente, é mestrando em Desenvolvimento Rural e Empreendimentos Agroalimentares pelo IFPA – Campus Castanhal e graduando em Tecnologia de Alimentos pela UEPA.
Com nove anos de experiência na indústria de alimentos e bebidas, Denis atua em funções de liderança de equipe, aliando conhecimento técnico e visão estratégica. Além disso, é instrutor e articulador em projetos de formação e fortalecimento de empreendedores do setor alimentício, com foco em qualidade, segurança alimentar e valorização da produção local.
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