Afronegócio + Feira Preta

Culinária Afrodiaspórica: da Gestão ao Prato
Postado em: 11 de Dezembro de 2025 às 16:16
Falar da culinária afrodiaspórica no Brasil, é o reconhecimento de que comer também é uma forma de manter viva uma história que atravessa continentes. Compreender o hábito alimentar como extensão de uma conjuntura histórica que une a nutrição, criatividade e principalmente, um coletivo, é fundamental para entendermos que a presença africana é estrutura da nossa cultura. Essa compreensão é chave para os debates sobre culinária afro-brasileira, gastronomia africana, afroempreendedorismo gastronômico e gastronomia identitária.
O ato de cozinhar é muito além de preparo de alimentos, mas sim uma forma de manter viva uma herança cheia de afetos que atravessa gerações, sendo peça fundamental para iniciarmos essa conversa tão importante: a junção da culinária afrodiaspórica e a gestão gastronômica.
O que é culinária afrodiaspórica?
Falar de culinária afrodiaspórica no Brasil, é o resgate de um conjunto de práticas que une ingredientes e técnicas baseadas nas memórias espalhadas pelo território oriundas do período escravocrata. Ela nasce do encontro entre culturas africanas diversas e as condições impostas pela diáspora. Por isso, é tão criativa e resistente, se adaptando com ingredientes do nosso solo tão fértil, mostrando que o alimentar além de essencial, é afetivo, ancestral e ligado ao território - pilares importantes da culinária africana contemporânea.
Muitas vezes o termo é usado de forma superficial, mas ele reflete uma história complexa: são alimentos, modos de preparo e formas de organização que sobreviveram embora a grande tentativa contínua de apagamento cultural.
O interesse do público também mudou
Dentro desse cenário de resgate e valorização da gastronomia afro-brasileira, os dados mostram que o público brasileiro está cada vez mais interessado em experiências culinárias conectadas à identidade, memória e cultura:
- +48% de aumento nas buscas por gastronomia regional desde 2023
- +71% dos brasileiros dizem que comer é uma forma de expressar identidade cultural
- +32% de crescimento no turismo gastronômico nacional
Fonte: Google Trens, 2025 | Datafolha, 2024 | Ministério do Turismo, 2025
Esses números reforçam que a culinária afrodiaspórica ocupa um lugar cada vez mais reconhecido, buscado e valorizado no país, impulsionando o turismo gastronômico, o empreendedorismo negro, a educação alimentar afrocentrada e a criação de novos negócios no setor.
Conhecimento transmitido pela prática
Grande parte da culinária africana foi preservada pela oralidade por circunstâncias óbvias. Não precisamos falar de gerações muito passadas, mas as minhas avós não sabem escrever e o ensinamento de boca-a-boca sempre foi a comunicação primordial. Bem como eu aprendi a cozinhar arroz e feijão olhando minha mãe e minha vó fazerem quando pequena, nossos ancestrais ensinavam pela observação e pelo fazer; não existiam receitas escritas: a memória estava no ensinamento e no gesto.
Esse modo de aprender permanece vivo. Porém, com a necessidade de termos um garantidor de qualidade na gastronomia, as fichas técnicas, fichas de preparo, montagem, controle de estoque e demais ferramentas de gestão são fundamentais para conseguirmos levar exatidão sem perder o tempero e a continuidade.

Formações como a Feira Preta Cria Gastronomia, que tive a honra de ser facilitadora a convite da Feira Preta em São Paulo, traz uma metodologia única e assuntos abordados no dia-a-dia das empreendedoras negras. O objetivo é potencializar negócios gastronômicos, auxiliando na vivência real das empreendedoras, entendendo como veicular de forma potente desde a criação ao consumo.
Essa formação respeita trajetórias, reconhece os saberes e reforça o valor da culinária afrodiaspórica como linguagem de resistência, economia criativa e expressão cultural.
Gestão ancestral: Ubuntu como forma de trabalho
No Restaurante Manden Baobá, entendemos que a culinária começa na gestão. Inspirada na filosofia Ubuntu,“eu sou porque nós somos” a organização da equipe parte da ideia do senso de comunidade.
Cada pessoa é vista como parte essencial do processo, e não apenas como colaboradora. Essa abordagem está presente desde a criação dos pratos até o pós-atendimento. É a junção entre gestão coletiva e ancestralidade com propósito que sustenta a essência do negócio.
O prato como consequência
Quando olhamos para a culinária afrodiaspórica e africana a partir da gestão, da transmissão e da criatividade, entendemos que o prato é o último - não menos importante - passo de um processo maior. A riqueza cultural que se tem a nível de África é gigantesca. Em várias regiões, alimentos como o fufu - massa feita de mandioca, milho amarelo, inhame ou banana-da-terra - estão mais presentes do que o arroz. A Múcua, fruto da árvore de Baobá ou Embondeiro, como fruto nutritivo rico em Vitamina C.
Essa diversidade mostra como a culinária é ligada ao território e à criatividade de cada povo. Mostra que o criativo é combinação de fatores, ingredientes e referências.
No Manden Baobá, cada preparação carrega essa base: uma mistura de memória, identidade, tempero e cuidado. Não se trata apenas de comida, mas de um movimento cultural vivo que conecta história e gestão.

Culinária afrodiaspórica é patrimônio vivo
A culinária afrodiaspórica é um patrimônio que se renova diariamente e que segue firme mesmo diante das dificuldades históricas.
Da gestão ao prato, tudo se conecta à ancestralidade e ao compromisso de valorizar a cultura africana em suas diversas formas. Para quem trabalha com gastronomia africana ou afrodiaspórica, olhar para o prato exige olhar também para gestão, para equipe, economia, território e principalmente, a ancestralidade.
É nessa junção que conseguimos criar um negócio sólido, promovendo experiências profundas e memória preservada - tanto para quem faz acontecer, quanto para quem quer conhecer.
Unindo história e estratégia, vamos muito mais longe. Ubuntu!
Quem é Laila Santos

Laila Santos — Empreendedora, comunicóloga, co-fundadora e gestora do Restaurante Manden Baobá (Vila Mariana – São Paulo). Criadora de soluções que valorizam a culinária africana por meio da gastronomia, geração de renda e educação cultural. Facilitadora da formação Feira Preta Cria Gastronomia, atua na construção de experiências, negócios e narrativas que fortalecem o afroempreendedorismo gastronômico no Brasil.
Recentes
Gastronomia Amazônica: Saber Ancestral e Futuro Sustentável
Do Prato ao Plano: empreendedorismo, identidade e gestão
A Cultura Africana como Alicerce da Cozinha Baiana
Da plantação à mesa: a cadeia produtiva a partir do campo
Patrocinadores do programa Academia Assaí
Patrocinadores Vendas por Encomenda
Conteúdo patrocinado por:


Patrocinadores Ambulantes
Conteúdo patrocinado por:

Patrocinadores Todos podem Empreender
Conteúdo patrocinado por:


Patrocinadores Minimercados e Mercearias
Conteúdo patrocinado por:



Patrocinadores Bares e Lanchonetes
Conteúdo patrocinado por:



Patrocinadores Dogueiros e Food trucks
Conteúdo patrocinado por:



Patrocinadores Padarias e Confeitarias
Conteúdo patrocinado por:



Patrocinadores Pizzarias
Conteúdo patrocinado por:



Patrocinadores Restaurantes
Conteúdo patrocinado por:



Patrocinadores Marketing e Vendas
Conteúdo patrocinado por:


Patrocinadores Gestão Financeira
Conteúdo patrocinado por:


Patrocinadores Empreender na Prática
Conteúdo patrocinado por:


Patrocinadores Boleiros e Salgadeiros
Conteúdo patrocinado por:





