Afronegócio

Modelo em frente à Casa Omolokum e Chef Leila em show de culinária

Casa Omolokum: culinária afro-brasileira em essência

Postado em: 16 de Dezembro de 2025 às 10:08 Por Redação

A Casa Omolokum resgata a ancestralidade afro-brasileira por meio da comida.

O restaurante não vende apenas refeições, mas uma experiência cultural, já que cada prato carrega o nome de um orixá e os insumos dialogam com as características dessa entidade.

Conversamos com a Chef Lelila Leão e Lorenço Rodrigues, que estão à frente da Casa Omolokum, para entender suas perspectivas acerca do negócio.

Confira a entrevista na íntegra!

 

Entrevista com Casa Omolokum

 

Fotos da Chef Leila cozinhando e do interior da Casa Omolokum

 

Academia Assaí: Como nasceu a Casa Omolokum e qual a visão inicial ao unir gastronomia e ancestralidade afro-brasileira? 

Casa Omolokum: A Casa Omolokum foi um dos primeiros espaços, aqui na região denominada Pequena África (RJ), a trabalhar no formato de experiência ancestral através da comida de terreiro e tudo que acompanha, colocando a mulher como protagonista, divulgando a importância da história da comida sagrada ao longo de 10 anos. A cozinha sagrada quebra barreiras e foi a forma política encontrada pela chef Leila Leão de lutar contra a intolerância e pedir respeito, e um olhar de destaque, para as cozinheiras de axé.

 

Academia Assaí: De que maneira vocês entendem a comida como ferramenta de preservação e memória ancestral? 

Casa Omolokum: Foi através da venda de quitutes e outras iguarias que as mulheres conseguiram, em grande parte, comprar sua liberdade e a de parentes e amigos. Sendo assim, nada mais significativo que usar essa mesma forma de poder para trazer a atenção para essas mulheres que ficavam escondidas nas cozinhas dos senhores. Através da valorização da comida ancestral, essas mulheres, e muitas outras, podem se sentir homenageadas.

 

Academia Assaí: Cada prato e cardápio carrega o nome de um orixá. Como foi o processo de escolha dessas receitas e a conexão entre ingredientes e características das divindades? 

Casa Omolokum: As comidas servidas na Casa Omolokum são releituras de oferendas feitas há décadas para os orixás. Assim sendo, ao escolher o orixá que será homenageado a cada semana, o repertório de comidas/oferendas já é de conhecimento prévio da Chef que, em sua trajetória dentro da religião, era a responsável em preparar essas oferendas/comidas votivas. Omolokum, um prato feito com feijão fradinho e ovos, que dá origem ao nome da casa, é um exemplo disso. É uma comida votiva do Orixá Oxum, senhora da prosperidade e fecundidade e cada um de seus ingredientes representa isso. Os feijões representam os óvulos, o ovo representa a maior célula já fecundada. Então esse prato nos traz essa perspectiva de fecundidade, porém não apenas a fecundidade para gerar filhos e sim a fecundidade de ideias, possibilidades e caminhos etc.

 

Academia Assaí: Como vocês equilibram a liberdade criativa da cozinha contemporânea com o  compromisso de respeitar as tradições afro-brasileiras ? 

Casa Omolokum: Os pratos servidos na Casa Omolokum são uma releitura da comida de axé. Sendo assim, um Omolokum pode vir coberto de uma moqueca de camarão, por exemplo, mas nunca haverá uma descaracterização da base original da oferenda. Mesmo com “licença poética”, nunca haverá mel em uma comida oferecida ao orixá Odé, já que essa é um das quizilas de orixá.

 


 

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Academia Assaí: Como o público reage ao fato de que a Casa Omolokum não vende apenas refeições, mas uma experiência cultural completa? 

Casa Omolokum: É significativa a mudança das pessoas quando entram em contato com a cultura e toda a história por trás da culinária. Algumas pessoas podem até saber que a feijoada, hoje tão aclamada, era feita apenas das partes não nobres dos suínos que eram dadas como “ração” aos escravizados, que davam sustância ao feijão com essas partes e acabou virando uma iguaria conhecida inclusive fora do Brasil. Então, quando as pessoas entendem os significados, os aspectos intrínsecos que representam cada comida, que não é apenas uma porção de alimento feito sem propósito, começam a ter uma outra visão sobre essa culinária.

 

Academia Assaí: Que elementos, além da comida, ajudam a compor essa experiência? 

Casa Omolokum: A casa é composta por pessoas ligadas às religiões de matriz africana e procura, sempre que possível, incluir em seus espaços obras de artistas também ligados a essa perspectiva. Sendo assim, contamos com 4 artistas plásticos residentes na casa, cada um com uma expressão própria, mas sempre com um olhar para a religião. Além disso, temos roupas de orixás, esculturas e outros produtos espalhados pela Casa que ambientam essa experiência e a música ambiente da casa também é ligada a cânticos religiosos, alguns de sua forma natural ou regravações mais modernas como de Maju, por exemplo.

 

Academia Assaí: Qual é a importância de valorizar ingredientes de origem africana e de pequenos produtores negros dentro desse modelo de negócio? 

Casa Omolokum: Além do azeite de dendê, o feijão fradinho, o feijão de corda, o inhame e alguns outros cereais que são de origem africana, existem os que foram adequados no Brasil. O milho, por exemplo, só “entra” na África por volta dos anos 1500, mas depois disso foi rapidamente incorporado à culinária africana e, consequentemente, às comidas de terreiro. Não há como dissociar a pipoca do orixá Omolu/Obaluaiê. Apoiar pequenos produtores negros, sejam de insumos, ou artistas que produzem peças com sementes ou baseados em adornos importantes da religião é uma forma de dar a eles exposição.

 

Academia Assaí: Quais os desafios vocês enfrentaram (ou ainda enfrentam) para consolidar um  empreendimento que assume explicitamente sua identidade afro-brasileira? 

Casa Omolokum: A concorrência com grandes restaurantes e a falta de valorização da comida de axé são os grandes problemas que ainda enfrentamos. As pessoas não se importam em pagar um valor considerado elevado para ir a um restaurante francês ou japonês, porém, quando se referem à comida de axé, não valorizam e sempre acham que deve ter um valor minorado, o que não passa de um “racismo” estrutural. Assim como nossos deuses são demonizados, nossa culinária ainda é vista como “menor” e, sendo assim, ficamos colocados numa prateleira de 2ª classe.

 

Interior da Casa Omolokum

 

Academia Assaí: De que forma vocês capacitam a equipe para que todos compreendam e transmitam os valores culturais que o restaurante representa? 

Casa Omolokum: Não é uma exigência mas, talvez, uma seleção natural. As pessoas que nos procuram quando abrimos vagas são, em sua maioria, pessoas ligadas às religiões de matriz africana. Sendo  assim, os valores culturais da Casa acabam sendo os mesmos dessas pessoas, já que todo o pensamento da Casa é uno com o pensamento do Candomblé, principalmente. O que fazemos é apenas lapidar os conhecimentos e torná-los palpáveis para que possam ser passados para os clientes.

 

Academia Assaí: Como a Casa Omolokum contribui para fortalecer o orgulho e a representação da cultura afro-brasileira no setor gastronômico? 

Casa Omolokum: A Casa Omolokum se constrói organicamente a cada dia, aprendendo com as demandas e questionamentos vindos dos clientes. Os passos são pensados no tempo do sagrado. O comercial é necessário e preciso, mas não podemos nos distanciar da essência, da beleza, da força e dos ensinamentos de nossas mais velhas. Nossa história é passada através da oralidade. Aprendemos ali, limpando galinha, à beira do fogão com as anciãs. Então, trazer essa comida ao conhecimento das pessoas que conhecem apenas o lado do sofrimento é dar aos povos que foram escravizados o valor que trouxeram para a nossa cultura, um legado que persiste, existe e resiste até os dias de hoje.

 

Academia Assaí: Quais os próximos passos: expansão do cardápio, novas experiências culturais, ações educativas ou parcerias com outros espaços de resistência afro? 

Casa Omolokum: Estamos sempre em movimento. Trazendo novas atividades para a Casa, como rodas de samba e sambas de roda. Há pouco tempo servimos de locação para o lançamento de uma nova coleção de uma marca de roupas de um criador negro e tivemos o desfile de modas de uma grande marca que produz roupas destinadas às rodas de candomblé e vestimenta de orixás, tudo dentro das regras do Candomblé. Temos rodas de conversas, leitura de histórias para crianças, bate-papo com escritores e formadores de opinião, onde debatemos a negritude em diversos ambientes.

 

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