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Mãe negra empreendedora - Rosyane com sua filha

Mãe negra empreendedora: rede de apoio, desafios e potências

Postado em: 20 de August de 2025 às 13:02 Por Redação

A mãe negra empreendedora é protagonista de histórias de superação e inovação.

Mesmo diante de barreiras, como a falta de representatividade e o acesso limitado a oportunidades, ela transforma desafios em motivação para crescer e prosperar.

Algumas iniciativas reconhecem esse potencial e trabalham para que ele seja desenvolvido. É o caso da Compre de uma Mãe Preta, da Rosyane Silwa e da Tuanny Miller.

Mulheres pretas, ex-cunhadas, amigas e mães, elas iniciaram o marketplace em plena pandemia com a ideia de oferecer essa rede de apoio para a mãe negra empreendedora.

E hoje, Rosyane Silwa fala sobre esse protagonismo da mulher negra, mãe e empreendedora.

 

Mãe negra empreendedora: desafios

 

O mundo do empreendedorismo tem seus desafios e, com frequência, eles se misturam com a discriminação, dificultando a prosperidade de pequenos negócios.

Quando falamos da mãe negra empreendedora, duas barreiras se destacam: o machismo e o racismo, conforme destaca Rosyane.

Ela ressalta o racismo cordial:

 

É o racismo que se esconde atrás da ‘boa intenção'. Que não xinga, mas ignora; que elogia nossa força, mas não nos convida para a liderança. É quando dizem que ‘não foi por mal’, mas a violência já aconteceu. Quando somos ‘inspiradoras’, mas não recebemos investimento. Esse racismo é silencioso, educado — e por isso mesmo tão perigoso”.

 

Rosyane explica que ser mulher preta e empreendedora é ter que furar essa bolha da “falsa inclusão” todos os dias. “Isso cansa!”, afirma ela.

A mãe negra empreendedora enfrenta ainda o desafio de conciliar o cuidado com os filhos e a administração de um negócio sem uma rede de apoio.

Rosyane diz que não há uma fórmula pronta e que isso não seria possível, porém, “as mães fazem mágica”, brinca.

 

Por isso, acredito que empreendedoras precisam buscar capacitação para gerenciar seus negócios. Conhecer ferramentas é fundamental para estruturar e gerir os tempos: de maternar e de empreender”, comenta.

 

Rosyane explica que a Compre de uma Mãe Preta surgiu para ser essa rede de apoio e também formação, além de ser uma forma de fazer com que essa mãe negra empreendedora não se sinta tão sozinha.

 

Mãe negra empreendedora - Rosyane e Tuany, fundadoras da Compre de Uma Mãe Preta

 

Potências da mãe negra empreendedora

 

Apesar de tantos desafios, Rosyane acredita que a maternidade não é um empecilho, mas uma força. E tudo muda quando a mãe negra empreendedora entende isso.

 

Muda o rumo, o corpo, os sentidos e a determinação. Ela passa a se reconhecer como protagonista da própria história. A maternidade deixa de ser vista só como obstáculo e passa a ser fonte de criatividade, coragem e conexão. Esse olhar fortalece e liberta”.

 

Quando mães negras decidem empreender, Rosyane enxerga nessa decisão: criatividade, força e a capacidade de fazer muito com pouco.

Se houvesse investimento nessas mulheres, ela frisa que elas voariam infinitamente.

 

Elas criam soluções, geram renda e transformam suas comunidades. Sabem cuidar, negociar, criar, comunicar, resistir e se reinventar. Reforçam que empreender é ancestral — sem romantizar, porque é muito difícil — mas a gente vê isso todos os dias na nossa rede: a potência de mulheres que não desistem, mesmo quando o mundo não nos enxerga. Desistir não é uma opção!”.

 

Quando essa mãe encontra uma rede de apoio como a Compre, surge o senso de coletividade e ancestralidade, que dá um novo sentido ao empreender.

 

A coletividade nos lembra que não estamos sozinhas. A ancestralidade nos dá força, referência e coragem para criar novas possibilidades. Quando resgatamos a história das antigas kitandeiras — mulheres que compravam sua própria liberdade — entendemos que empreender é também um ato ancestral. Acredito que é possível reconstruir nosso lugar na economia de forma digna e potente”, pontua.

 

Ela defende ainda que toda compra é um ato político e que, ao comprar de uma mãe negra empreendedora, você não está comprando apenas um produto.

 

Você está fortalecendo uma rede, alimentando crianças, rompendo ciclos de desigualdade. É uma escolha, com poder de transformar vidas e construir futuros mais justos e potentes”, afirma.

 

Rosyane se define como “matrigestora”, que reconhece a potência da mulher como centro de criação, gestão e transformação.

 

Esse conceito orienta minha atuação porque acredito que empreender, especialmente sendo mãe e preta, é um ato de resistência e de amor: por mim, pela minha filha, sobrinha e por tantas outras mulheres”, justifica.

 

Compre de uma Mãe Preta

 

Compre de uma Mãe Preta é um marketplace criado por Rosyane Silwa e Tuanny Miller para dar visibilidade e apoio a mães pretas empreendedoras.

A iniciativa surgiu durante a pandemia, quando muitas perderam sua renda e passaram a vender produtos e serviços para sustentar suas famílias. 

Inspiradas na tecnologia ancestral do “mercar” e na força das mulheres negras que movimentavam feiras e mercados, as fundadoras criaram a Kitanda da Compre, o primeiro marketplace afrocentrado do Brasil voltado exclusivamente para mães empreendedoras.

Na Kitanda, cada participante pode criar gratuitamente sua loja virtual e vender sem mensalidade fixa - pagando apenas taxas por venda. 

Para quem busca mais suporte, o Plano de recorrência mensal oferece acesso ao Clube de Benefícios Odara, com mentorias, formações, feiras, collabs e rede de apoio. 

Mais que comércio, o projeto é um ecossistema de autonomia, afeto e ancestralidade, fortalecendo a economia preta e materna.

 

Um pouquinho sobre Rosyane Silwa

 

Rosyane Silwa é jornalista, produtora cultural e mestra em História pela PUC-SP, com especialização em Gestão de Projetos Culturais pela USP.

Cofundadora e CEO da Compre de uma Mãe Preta, startup e marketplace afrocentrado voltado para mães pretas empreendedoras, ela atua para promover visibilidade, autonomia financeira e rede de apoio para mulheres negras. 

Sua trajetória inclui experiências no jornalismo, na produção cultural e no movimento Black Babywearing Brasil, como assessora de babywearing. 

Defensora da ancestralidade, da economia preta e do empreendedorismo materno, Rosyane se define como “fazedora de muitas coisas” e acredita que o negócio é uma semente para o bem viver de crianças e mulheres pretas.

 

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